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Formação em Desenvolvimento de Arquivo(s) em Artes Performativas na Guiné-Bissau

No contexto da Guiné-Bissau, onde a tradição oral é, ainda, uma forma de relação social e cultural, os arquivos representam-se sob a forma humana, atravessando as etnias, as regiões, a terra, os rios e o mar.  Desta riqueza viva, a contrastante aflição de que tudo se perca, numa era onde o digital preserva e divulga a memória globalmente.  A inquietação move a necessidade de, através do Ur_GENTE, semear estratégias para pensar (-se) e criar arquivos: do teatro à dança, da literatura aos rituais, dos ritmos às peças de artesanato mágico, do cinema à passada contada.

Junto duma equipa de investigadores do CET – Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e nosso parceiro do projeto e dum grupo de 16 formandos, emergimos nos dias 7, 8, 11, 12 e 13 de setembro de 2023, numa formação que teve como tema o “Desenvolvimento de Arquivo(s) em Artes Performativas na Guiné-Bissau”.

Partindo da abordagem a conceitos principais, metodologias e abordagens de um arquivo em artes performativas, privilegiando a escuta e a observação, construiu-se um espaço de reflexão em torno das necessidades de preservação e valorização cultural, sensibilizando para a criação de práticas de arquivo.

A sala de formação expandiu-se e aconteceu também em visitas e conversas num mergulho intenso pelo património material e imaterial, junto daqueles que lhe dão corpo. No Pavilhão do 3º Congresso, acompanhados pelo Diretor Geral do Património Cultural, Cambraima Allonso Cassamá e pelo atual Diretor do Museu Etnográfico, Albino Djata, fomos guiados pelos objetos e pelo arquivo de cinema da Luta de Libertação Nacional. As peças do Museu Etnográfico, temporariamente sem instalação própria, encontram-se armazenadas neste local.

A visita ao Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro, em Cacheu, foi um momento raro! Aos anteriores anfitriões, juntou-se Albano Mendes, figura ímpar no território da museologia e da etnografia na Guiné-Bissau (Diretor dissidente do Museu Etnográfico da Guiné-Bissau), que narrou a travessia que contextualiza a escravatura, a partir do ponto geográfico por onde os navios densamente ocupados partiram…

Somaram-se arquivos, sempre inspirados na tradição. No Ilhéu do Rei, fomos ver a exposição permanente (até que o tempo a apague) “Nturudu – Um Carnaval Sem Máscara” nas ruínas daquela que foi a emblemática fábrica de óleo de amendoim.

No Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, fomos acolhidos por Iaguba Djaló, Diretor da Biblioteca e do Arquivo Histórico da Guiné-Bissau, edifício gravemente atingido pela Guerra Civil de 1998-99. É da obstinada resistência a esta tragédia e às dificuldades financeiras que esta instituição regenera-se.

Do património imaterial, fomos brindados pelas atuações do Ballet Nacional da Guiné-Bissau e pelos Netos do Bandim: ambos mantêm vivas as danças étnicas. Pelas vozes e ritmos dos grupos de mandjuandade, pelos de grupos de teatro, cinema e dança: Ami Ku Nha Sunhu, Os  Fidalgos, Raiz Di Poilon. E pela quimera doutros grupos, doutros projetos, pelo desejo vivo de conservar e criar nova memória. Quase em jeito de saída, tivemos a honra de conversar com o Adido para a Cooperação Portuguesa, António Nunes, e de sermos recebidos depois pela Ministra da Cultura da Guiné-Bissau, Indira Cabral Embaló.

Um manifesto comum entrelaçou os retalhos desta formação viva à vida da Guiné-Bissau. O desejo de estarmos juntos, pela cultura, pelo sonho, pela Guiné-Bissau! É Ur-GENTE!

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