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"Para que todo e qualquer cidadão do mundo tenha acesso à nossa realidade cultural na palma da sua mão"

Entrevista a Cassama G. Silva

Estudante finalista do mestrado em Estudos e Gestão Cultural, no ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), Cassama G. Silva foi sempre fascinada pelo “mundo cultural” e por factos históricos. Filha de Bolama, vive desde os 6 anos com a sua família em Portugal. Em 2018, no regresso à sua terra natal, constata o estado frágil de conservação do património material e imaterial e a ausência de registos e arquivos dessas memórias.. É neste sentido que decide desenvolver um projeto que visasse consciencializar a população da necessidade de proteção e valorização da cultura e bens patrimoniais guineenses, e, simultaneamente, criasse um cartão de visita do país ao mundo. Nasce, assim, o seu Projeto de final de Mestrado, “Nô Guiné”, uma fusão de website e aplicação dedicada à inventariação e interpretação do património cultural guineense que deseja, futuramente, colocar de acesso livre ao público. Em paralelo, desenvolveu especializações em História da Arte e UX/UI Design para ampliar o seu domínio no campo patrimonial e digital. 

Cruzámo-nos com Cassama G. Silva na sua última visita à Guiné-Bissau, enquanto recolhia mais informação para o “Nô Guiné” e tivemos o prazer de conversar com ela. Venha conhecer tudo sobre a Cassama e este projeto que promete ser um passaporte para a Guiné-Bissau e a sua riqueza patrimonial.

Qual é/quais são as motivações que te inspiram em relação ao teu objeto de estudo e projeto?

Para responder a esta pergunta é necessário explicar um pouco sobre o meu background e voltar um pouco atrás no tempo. Eu faço parte de uma família de essencialmente pedagogos e sempre fui uma pessoa muito curiosa, completamente apaixonada por investigar, esclarecer as minhas inquietações e partilhar estas descobertas com as pessoas. A estes aspetos, alinha-se o facto de que sempre fui fascinada pelo “mundo” cultural e factos históricos.

Posto isto, este projeto começou a surgir quando, em 2018, de regresso à minha terra natal, constatei o estado de conservação do património cultural guineense, com principal atenção os conjuntos arquitetónicos e esculturas que compõem a popularmente nomeada “praça” de Bissau e a ilha de Bolama, que infelizmente estavam muito aquém da magnitude descrita pelos meus antepassados.

Foi neste momento que percebi que se não quisesse ver a nossa história e identidade coletiva destruída pelo tempo ou pelas mãos da comunidade, precisava de desenvolver um projeto que visasse consciencializar a população acerca da proteção do nosso património cultural. Assim nasceu o Nô Guiné, uma fusão de um website e aplicação para inventariação e divulgação da nossa cultura e bens patrimoniais, antes que seja tarde demais, até porque ninguém protege o que não ama.

“Percebi que se não quisesse ver a nossa história e identidade coletiva destruída pelo tempo ou pelas mãos da comunidade, precisava de desenvolver um projeto que visasse consciencializar a população acerca da proteção do nosso património cultural. Assim nasceu o Nô Guiné, uma fusão de um website e aplicação para inventariação e divulgação da nossa cultura e bens patrimoniais”

Como organizaste e selecionaste os pontos de visita e estudo na Guiné-Bissau e como pretendes partilhá-los com o mundo?

Uma vez que os objetivos principais deste projeto são a documentação e divulgação de qualquer tipo de património cultural, seja ele material ou imaterial, sabia que era imprescindível para a sua estruturação o contacto com diversos tipos de agentes culturais guineenses, desde políticos, poetas, músicos, dançarinos, técnicos, investigadores, professores, entre outros, tendo como propósito compreender e abranger diversos pontos de vista na elaboração deste projeto. Assim, procedi a uma série de contactos e entrevistas exploratórias que visavam não só compreender o olhar de cada um no que toca à nossa realidade cultural e patrimonial mas também, uma vez que se trata de um projeto um tanto multidisciplinar, era importante para mim ouvir as considerações de cada um acerca do projeto Nô Guiné!

Quanto às ferramentas de partilha das informações, no mundo digital que vivemos hoje era indispensável que a divulgação dos bens patrimoniais guineenses fosse realizada por meio de plataformas digitais para que todo e qualquer cidadão do mundo tenha acesso à nossa realidade cultural na palma da sua mão. Assim, irá existir um site no qual estará disponível as fichas de inventário do património cultural guineense. Associado a este site, existirá uma aplicação, na qual estará disponível um mapeamento dos bens inventariados, bem com uma galeria de conteúdos visuais (vídeos e fotografias) e uma breve descrição e análise artística e/ou histórica. Associada a esta experiência na aplicação, existirá espaço Ke ku nó djintis sibi (“O que a nossa gente sabe”) destinado à partilha de conhecimentos por parte da comunidade.

Considerando as características do trabalho que estás a desenvolver, o que precisarias para materializar a sua divulgação ao público, duma forma durável?

Tendo em conta que a divulgação e aproximação com os diversos tipos de públicos é crucial para o sucesso e sustentabilidade deste projeto, é necessária uma constante comunicação digital por meio das redes sociais. Em simultâneo serão necessárias ações de conscientização no terreno, mais especificamente nas escolas e universidades para envolver a camada jovem. Além disto, é também necessária uma aproximação com as outras camadas da comunidade. O Nô Guiné irá necessitar de uma sede na Guiné-Bissau, na qual terá de promover ações de consciencialização e divulgação e também ações de formação.

Entrevista concedida por Cassama G. Silva a Carolina Rodrigues, coordenadora do projeto Ur-GENTE, em setembro de 2023

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